No ano em que comemoramos 15 anos de APDES, queremos apresentar-lhe algumas das pessoas que trabalham deste lado, todos os dias, há 15 anos!

APDES na Primeira Pessoa

 

ALINA SANTOS

 

Cargo atual na APDES: Coordenadora do Departamento de Cooperação para o Desenvolvimento

Ano de início de funções na APDES: 2003

Função assumida no início desta colaboração: Coordenadora da Equipa GIRUGaia

Há 15 anos...

Atualmente...

Sou uma mulher de 40 anos, que nasceu e cresceu no Porto. Sonhava ser pintora, mas aos 18 anos decidi que a minha forma preferencial de expressão deveria ser a palavra e a relação com o outro, no sentido de contribuir para a transformação social. Licenciei-me na Universidade do Porto em Psicologia com área de especialização em Comportamento Desviante.

Fiz uma Pós-Graduação em Educação e Desenvolvimento Humano e actualmente estou a frequentar um Curso de Especialização em Epistemologias do Sul no Conselho Latino Americano de Ciências Sociais. Praticamente comecei a minha experiência profissional na APDES, antes trabalhei apenas como voluntária no Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo, também como voluntária numa associação de prevenção do suicídio (Associação Escutar) e numa iniciativa familiar de criação de uma micro-empresa na área da Educação Escolar. Interesso-me por questões ambientais e gosto de me dedicar à minha micro-horta doméstica para ver sementes a gerarem vida!

Um dos aspectos mais interessantes para mim é o facto da APDES trabalhar com as Margens Urbanas e com os objectos/actores mais silenciados da sociedade. Mais ainda, é o facto de não se limitar a trabalhar só com um objecto mas com vários – Consumo de Drogas, Trabalho Sexual, Questões LGBTI, Reclusão, Economia Social e Solidária, Educação e Institucionalização de Crianças e Jovens.

Para além disso, é diferenciado, trabalhar com as pessoas directamente, procurando o seu empoderamento e aumento de participação, mas também criar conhecimento sobre elas e aquilo que impede a garantia dos seus direitos, usando-o para advogar por melhorias e pelo aumento da justiça social. Também considero diferenciador, a autonomia técnica e a liberdade de cada colaborar para propor os seus projectos e as ramificações que considera importantes podendo, ainda, trabalhar e desenvolver competências em termos de investigação e advocacy.

Comecei em 2003 por participar na candidatura e depois na coordenação de um dos dois primeiros projectos da APDES, o GIRUGaia. Depois de dar consistência técnica, de construir uma dinâmica de trabalho em equipa e ter assegurado a sua ligação à comunidade de consumidores de drogas e às estruturas da rede, deleguei a sua coordenação e passei em 2006 a liderar uma nova equipa CHECK!N. Ramificou-se, assim, a intervenção no consumo de drogas para o uso e a gestão de prazeres e riscos em contextos recreativos feitos por jovens, tendo-se integrado uma metodologia inovadora em Portugal de análise de substâncias psicoactivas – cromatografia de camada fina.

Em 2008, mais uma vez, delegada a coordenação do CHECK!N, passei a coordenar a primeira equipa a intervir no trabalho sexual desenvolvido em contexto indoor – PortoG.

Em 2012 aceitei o desafio de ir para Angola desenvolver uma iniciativa comunitária no Bairro de Capalanga, onde participei na requalificação de uma escola primária e na defesa de uma Educação para Todos. Tornei-me na representante legal da APDES em Angola, tendo-a legalizado como ONGD Internacional. A lógica de trabalho em rede com outras ONG, as metodologias participativas e de Educação de Pares e o diálogo com decisores nas áreas que afectam estas comunidades têm sido pilares dos meus já 16 anos de trabalho com a equipa APDES.

Para mim foi, sem dúvida, a internacionalização da APDES. Pessoalmente a parte que mais afectou (positivamente!) a minha carreira e vida pessoal foi a minha mudança para Angola, onde durante 5 anos vivi a maior parte do tempo submersa numa cultura completamente diferente daquela que levava comigo.

Foi (e ainda é) uma experiência incrível e um desafio constante aos padrões, representações, perspectivas, que temos e que parecem (tantas vezes) inquestionáveis… Contudo, a restante capacidade da APDES de ter saído do seu espaço de conforto e ter-se aberto ao mundo e às relações com equipas e instituições europeias, norte-americanas, latino-americanas e africanas fez de nós uma instituição que arrisca e se abre ao confronto de ideias e à co-construção de novas visões do mundo e novas estratégias de participação na sua transformação.

Pergunta difícil… que se confunde com o meu desejo… diria que imagino que seremos uma agência ainda mais rigorosa e capaz de conseguir uma mais efectiva intersectorialidade; com uma voz ainda mais activa no desenho das políticas públicas, mas também no desenho de estratégias alternativas aos sistemas dominantes.

Passamos pelo desafio, habitual das ONG, de garantir maior sustentabilidade mas como estamos a fazer mudanças a esse nível, imagino que daqui a 15 anos iremos todos ter melhores condições para desenvolvermos o nosso trabalho de forma mais rigorosa para sermos mais criativos e participativos.