No ano em que comemoramos 15 anos de APDES, queremos apresentar-lhe algumas das pessoas que trabalham deste lado, todos os dias, há 15 anos!

APDES na Primeira Pessoa

Sofia Mora

Cargo atual na APDES: Membro do Conselho de Coordenação
Ano em que começou a colaborar com a APDES: 2004 (antes da sua constituição formal)
Função assumida no início desta colaboração: Técnica consultora para a criação de micronegócios

Há 15 anos...

Atualmente...

Mulher, 38 anos. Formei-me em Economia. Mas cresci a estudar Ciências Naturais e aventurei-me num Mestrado em Sociologia em Coimbra – estas foram as experiências de aprendizagem que mais me marcaram.

O meu percurso de trabalho afirmou-se a par do crescimento da APDES: sempre foi a minha casa profissional. Trabalhei ainda pontualmente em formação e intercâmbios europeus na A3S, associação de que faço parte, voltada para a capacitação das organizações da economia social. E ganhei experiência do mundo como voluntária na Índia e em S. Tomé e Príncipe.

Pratico meditação e sou curiosa por diversas práticas de transformação pessoal – porque agir politicamente no mundo implica um caminho de auto-conhecimento.

Sempre me fascinou na APDES a sua diversidade. Atuamos numa pluralidade de objetos de intervenção, envolvemos colaboradores com perfis profissionais heterogéneos, passamos por distintos territórios dentro e fora de Portugal, e perspetivamos a ação numa lógica tripartida de serviços-investigação-advocacy. Somos uma organização difícil de sumarizar!

O campo de experimentação e potencial de aprendizagem é imenso. Agora, isto também levanta desafios. Porque nos tornamos uma organização complexa. E porque há um caminho a percorrer do ponto de vista de uma crescente integração disto tudo.

Há muito espaço para o cruzamento de saberes, para a criação de respostas e projetos na intersecção de diferentes lógicas.

Comecei por trabalhar como consultora no apoio a pessoas desempregadas que procuravam desenvolver planos de negócio para a criação das suas microempresas.

Trabalhávamos em equipa com estas pessoas, criando pontes para mecanismos de financiamento e fortalecendo a gestão das suas carreiras. A pouco e pouco fui alargando o meu campo de ação: colaborando com projetos europeus na área do trabalho sexual, estimulando o processo de mobilização cívica de pessoas que usam drogas e que resultou na criação da CASO (a primeira associação de consumidores de drogas em Portugal), investigando na área do microcrédito e políticas públicas, participando em diversos projetos e redes nacionais e europeias para a promoção da empregabilidade de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Nos últimos anos tenho-me focado em projetos europeus que exploram o potencial da Economia Social e Solidária nos processos de transformação social. Para além disto, faço parte desde 2014 do Conselho de Coordenação da APDES, apoiando a Direção na coordenação e gestão da organização, e nos seus processos internos e externos de comunicação.

Desde cedo tive grande liberdade nos processos de trabalho, o que me obrigou a desenvolver uma forte capacidade de autonomia e também de responsabilidade pelo todo APDES. Marcas que ainda hoje definem a minha postura na organização.

Vou eleger um momento anual que para mim tem sido constantemente marcante: as Jornadas APDES! Em cada dezembro, toda a equipa APDES se reúne (somos dezenas) para fazer um balanço do ano, para estarmos em conjunto, para partilharmos os nossos resultados e impactos, e refletirmos sobre as nossas perplexidades e inquietações. São 2 dias de trabalho, e acima de tudo de celebração!

Celebramos o caminho feito, celebramos a nossa resiliência e celebramos os desafios que se impõem e que nos animam. No regresso a casa venho sempre inspirada pelos meus colegas e pelo que conseguimos juntos, e com motivação para regressar após o merecido descanso do Natal.

As Jornadas são participadas por todos os técnicos e educadores de pares da APDES, e nos últimos anos também por convidados estratégicos da área política, do jornalismo, da academia. Procuramos envolver todos, porque confiamos nas pessoas.

Não é claro para mim como será a APDES daqui a uma década e meia.

Como será o mundo daqui a uma década e meia? O caminho é de aprofundamento dos nossos princípios, e ao mesmo tempo de renovação. Imagino que a APDES vai manter o seu ADN: afirmar-se como um agente cívico e participativo na afirmação e concretização de uma agenda política para a coesão e emancipação das pessoas e comunidades. Imagino também que a APDES terá de se reinventar de várias formas: na sua organização interna e na resposta à necessidade de inovação nos serviços, na investigação e na pressão política que desenvolve.

Há tensões estruturais que põem em relação o foco na missão e o foco na sustentabilidade. Estas afetam grande parte das organizações não governamentais como a nossa e acho que em 15 anos ainda se continuarão a sentir. Acima de tudo imagino a APDES como um contínuo laboratório de experimentação, quer de respostas sociais, quer de formas de estar e construir em coletivo.